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O Último Amor de Mr. Morgan | Sandra Nettelbec | França | 2013

“O Último Amor de Mr. Morgan” (França/EUA/Alemanha/Bélgica, 2013), da diretora alemã Sandra Nettelbeck, nos apresenta uma experiência fascinante e transformadora acerca da repentina solidão na velhice. O Mr. Morgan do título é interpretado pelo veterano e cultuado ator Michael Caine, consagrado por clássicos modernos como "Vestida Para Matar", de Brian de Palma, e “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, de Christopher Nolan. Matthew Morgan é um ex-professor americano de 80 anos, aposentado e viúvo recente. Ele mora em Paris e não fala francês. Angustiado com a morte de sua amada esposa francesa, ele precisa de um novo sentido para a sua vida. Um dia, ele conhece Pauline, uma professora de dança com idade para ser sua neta. Ela também é uma pessoa solitária e carente de vínculos familiares. Ao conhecer Matthew, ela acredita ter encontrado alguém para dividir os sonhos. De repente, uma situação emergencial faz com que ela se sinta ainda mais próxima dele, mas a chegada dos filhos de Matthew dos Estados Unidos acaba causando um climão. Confusa e deslocada, Pauline não encontra seu espaço nesta relação entre pai e filhos. E agora, de que lado Mr. Morgan vai ficar? "O Último Amor de Mr. Morgan" é, segundo o crítico Diego Benevides, do site Cinema com Rapadura, "uma bela poesia sobre o amor e a família para refletir". Leia abaixo o excelente texto na íntegra.


“O Último Amor de Mr. Morgan” (2013): reflexões sobre a vida e a morte

Michael Caine empresta todo o seu talento a drama familiar denso.


“Amor”, de Michael Haneke, conquistou o mundo e venceu o Oscar por refletir sobre a morte e o passar do tempo para as pessoas. Em 2010, John Cameron Mitchell partiu corações com “Reencontrando a Felicidade”, sobre pais que tentam lidar com a dor da perda de um filho. Em “O Último Amor de Mr. Morgan”, a cineasta alemã Sandra Nettelbeck (“Helen”) adapta a obra de Françoise Dorner sobre um senhor que, após a morte da esposa, precisa encontrar motivações para viver. Os três filmes se comunicam de forma ímpar pela densidade da narrativa e por questionar os valores familiares e a vida.

A trama se passa em Paris, onde conhecemos Matthew Morgan (Michael Caine) logo após a perda da esposa (Jane Alexander), que sempre foi seu porto seguro. Com a fatalidade, Mr.

Morgan decide continuar na cidade, sem falar francês e vivendo como pode, tomado por lembranças e tristeza. Certo dia, ele conhece Pauline (Clémence Poésy), uma jovem professora de dança que despertará uma nova motivação em sua rotina. Durante a jornada de superação, ainda conhecemos a relação conturbada dele com os filhos Karen (Gillian Anderson) e Miles (Justin Kirk).

Sandra Nettelbeck é bem específica em suas motivações para o filme, sabendo utilizar os conflitos em doses homeopáticas. No primeiro ato, a relação de Mr. Morgan com Pauline é o principal gancho. A jovem apareceu na vida do protagonista em um momento de fragilidade, com toda a sua doçura e enxergando nele uma figura paterna. A amizade que surge é tão legítima e pura, que é impossível não se encantar com os passeios e as aulas de dança que eles compartilham. Também é inevitável questionar se esse encantamento pode ir além da amizade, mas a sutileza dos diálogos faz com que isso pouco importe.

Em seguida, uma mudança brusca acontece. A entrada dos filhos de Mr. Morgan direciona a trama para outro lugar. Se no início acompanhamos o sofrimento do protagonista aliviado pela jovem professora de dança, agora teremos questionamentos bem mais profundos sobre valores familiares. Em algum momento, portanto, essas duas linhas narrativas se encontrarão. O acerto do roteiro de Nettelbeck é justamente não entregar tudo de cara, guardando as informações sobre a vida daqueles personagens para serem usadas nos momentos certos. Assim, o longa contorna os clichês e mantém o interesse do espectador até o final.

Como diretora, Nettelbeck também sabe o que faz. Dispondo de uma fotografia que brinca com jogos de luzes e sombras, ela evita closes excessivos para forçar a emoção do público e opta por planos mais abertos, escancarando a solidão de Mr. Morgan no apartamento vazio ou pelas ruas de Paris. Também é um mérito a ilusão de ótica que ela cria, inserindo conversas imaginárias de Mr. Morgan com sua esposa que rende momentos belíssimos como na sequência em que a mão do protagonista é agarrada, como se a presença da mulher da sua vida continuasse mesmo após a morte.

A experiência de Michael Caine eleva a trama para outro nível. Desde o primeiro frame, o ator mostra que essa é uma das atuações mais significativas da sua carreira. A segurança com que transita, no decorrer da projeção, de um homem em depressão a um pai pouco presente é assustadora, no melhor sentido da palavra. A química de Caine com Clémency Poésy é deliciosa, mesmo quando a sintonia entre seus personagens se disperse. Destaque também para a pequena participação da experiente Jane Alexander é bem mais apaixonante e poética, que pode levar às lágrimas.

Por outro lado, Gillian Anderson e Justin Kirk não conseguem segurar muito bem os caminhos narrativos que o longa toma. Anderson participa rapidamente e a futilidade de seu personagem incomoda. Já Kirk tem mais tempo em cena, até para resolver os problemas com o patriarca, mas não consegue ter empatia alguma ou segurar uma cena sozinho, o que é fatal para o desfecho que é dado para a trama.

Embalado por uma trilha sonora delicada de Hans Zimmer, sempre correto, “O Último Amor de Mr. Morgan” é sobre não estarmos preparados para perder quem amamos. Como o próprio personagem diz, a vida continua cheia de distrações, de pessoas e acontecimentos que ainda precisamos decifrar e que nos mantém vivos. Uma bela poesia sobre o amor e a família para refletir.



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