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Ânsia de Amar | Mike Nichols | EUA | 1971

Em 40 anos de carreira, Mike Nichols (1931–2014) dirigiu menos de 20 longas, mas tudo que ele fez foi sucesso. Desde que ganhou o Oscar de Melhor Diretor, com o clássico "A Primeira Noite de Um Homem" (1967), sua estrela só brilhou cada vez mais. Com o filme "Ânsia de Amar" (EUA, 1971), ele chocou a sociedade americana do início dos anos 70 devido à maneira "nua e crua" (literalmente) como abordou a sexualidade. Além disso, as cenas de nudez em si, ainda incomuns no cinema americano da época, levou o longa a ser apreendido em algumas salas que o exibiam, sob a alegação de conter "material obsceno". Segundo o crítico de cinema Alysson Oliveira, em texto publicado no site Cineweb, "ainda que lançado no mesmo ano que 'Laranja Mecânica' e 'Sob o Domínio do Medo', 'Ânsia de Amar' conseguiu ser tão contundente e polêmico quanto aqueles dois, cujas polêmicas nasceram do retrato da violência física, enquanto aqui esta é emocional". Leia abaixo a ótima crítica na íntegra.


Ânsia de Amar funciona tanto quanto sintoma quanto como uma consequência dos anos de 1960. Lançado no início da década seguinte, o longa de Mike Nichols faz uma crônica da história dos EUA do período a partir das conquistas sexuais de dois jovens que se conhecem na faculdade, Jonathan (Jack Nicholson) e Sandy (Art Garfunkel). O longa começa com a tela escura, na trilha a clássica “Moonlight Serenade”, de Glenn Miller, e uma conversa franca entre os rapazes pontuando o tema e o tom do que virá a seguir.

O que se segue é uma jornada sócio-sexual sobre o desenvolvimento emocional da geração da revolução sexual, com todas as suas conquistas, derrotas e ansiedades. O título original, “Carnal Knowledge”, algo como “Conhecimento Carnal”, deixa claro os objetivos dos dois protagonistas que, ao mesmo tempo, querem saber mais sobre os mistérios do sexo, mas também conhecerem uma garota de alta classe que vai lhes dizer coisas que jamais ouviram.

Quatro anos antes, Nichols havia feito A primeira noite de um homem, que serve como um prelúdio para Ânsia de Amar. O jovem protagonista daquele filme (Dustin Hoffman) equivalia sua passagem da juventude à vida adulta com a descoberta do sexo. “Você está tentando me seduzir, Sra. Robinson?”, foi uma pergunta que ecoou. Agora, ninguém tem mais dúvida quando as pessoas estão tentando seduzir umas às outras. Se o filme de 1967 tentava entender o ethos sexual daquele momento, este outro está ligado à ressaca vinda dessa experiência, na década seguinte.

Conhecemos Jonathan e Sandy na década de 1940, no dormitório da faculdade. E eles, apesar dos objetivos próximos, veem de maneira diferente as mulheres: um, como objeto sexual, outro, como objeto intelectual. É como se houvesse uma cisão entre carne e intelecto, e cada um deles, num nível simbólico, representasse uma coisa. Entre eles está Susan (Candice Bergen), uma moça de ideias avançadas que se envolve com os dois, da maneira como eles querem: com o corpo e o espírito. Ela acaba se casando com Sandy.

Duas décadas depois, eles se divorciaram, e Jonathan se casou com Bobbie (Ann-Margret). Nenhum dos dois, no entanto, se dá por satisfeito por seus conhecimentos carnais, e continua em busca de saciar isso. Sandy tem saído com uma jovenzinha (Carol Kane), enquanto o amigo procura consolo com uma prostituta (Rita Moreno). E nada disso é suficiente para a dupla que, ao longo de todo o filme, é incapaz de conhecer bem as mulheres. Conforme coloca o roteiro do desenhista e dramaturgo Jules Feiffer, a culpa não é delas, mas deles, em sua infinita incapacidade de pensar para além do conhecimento carnal deles mesmos.

Nichols é econômico nas imagens, construindo suas cenas na base dos diálogos. O resultado é devastador. Ainda que lançado no mesmo ano que Laranja mecânica e Sob o domínio do medo, Ânsia de Amar conseguiu ser tão contundente e polêmico quanto aqueles dois, cujas polêmicas nasceram do retrato da violência física, enquanto aqui esta é emocional.

Alysson Oliveira


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