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UMA OUTRA MULHER | MARGARETHE VON TROTTA | 2006 | ALEMANHA


Katja Riemann no filme "UMA OUTRA MULHER"


“Uma Outra Mulher” (Alemanha, 2006), de Margarethe von Trotta, começa com o engenheiro Robert Fabry fazendo check-in em um luxuoso hotel de Frankfurt. Nesse momento, ele presencia uma confusão envolvendo uma dama de vermelho. Ela se aproxima dos homens na recepção a pretexto de pedir a eles que acendam seu cigarro, mas os funcionários do hotel interferem na cena para expulsá-la. Robert logo se coloca à frente para impedir que ela seja ultrajada, chamando-a de Alice, nome que ele usou apenas para fingir que a conhecia e assim defendê-la. Minutos depois, “Alice” está deitada no quarto de Robert, seminua. “Sem roupa é mais caro”, ela avisa. No dia seguinte, Robert vai a um escritório tratar de um grande contrato quando é apresentado à advogada que cuidará do assunto, a super formal dra. Carolin Winter. O engenheiro imediatamente reconhece nessa mulher a prostituta com quem esteve na noite passada. Esse é o início de uma trama extremamente intrigante, com revelações cada vez mais perturbadoras. Sérgio Vaz, em seu texto publicado no site + de 50 Anos de Filmes, vai ainda mais além: “A loucura está só começando. Teremos em seguida um quadro de obsessão, incesto, automutilação, alcoolismo, tentativa de fratricídio, de assassinato, e muito mais”. Se você ficou curioso pelo filme, ele está disponível no streaming À La Carte. Quanto ao ótimo texto de Sérgio Vaz, ele está replicado abaixo, na íntegra.


Uma Outra Mulher/Ich bin die Andere

Por Sérgio Vaz


Cena do filme "UMA OUTRA MULHER"


Anotação em 2008: Para quem gosta de muita doença, muita piração da cabeça, este filme da alemã Margarethe Von Trotta é um prato cheio. Não há um único personagem que sequer chegue perto de algum tipo de sanidade mental.

O filme abre com uma mulher numa banheira, conversando ao telefone com o pai. Diz a ele que gostaria de contar sobre sua amiga Carlotta. O pai (o ótimo veterano Armin Mueller-Stahl), que vemos em uma cadeira de rodas, sendo servido por uma bela e elegante criada, trata a filha com profundo, nojento desdém.


Cena do filme "UMA OUTRA MULHER"


Corta, e temos um homem jovem chegando a um hotel, onde é reconhecido e bem recebido pelos funcionários. Enquanto ele está diante do balcão fazendo o check-in, entra no salão do hotel uma mulher de vestido vermelho berrante e maquiagem pesadíssima, se oferecendo aos homens que ali estão. Os funcionários do hotel tentam expulsá-la, mas o hóspede recém-chegado vai em seu socorro, a chama pelo primeiro nome que lhe vem na cabeça, Alice. Sobem para o quarto, ela deita, abre as pernas, tira a calcinha, expõe as propriedades para o homem e para a câmara, pergunta o que ele quer, diz que sem roupa é mais caro.

Corta, e temos o homem acordando; a mulher não está; está é o dinheiro que ele tirou da carteira para pagá-la. Ela não quis o pagamento.

Em seguida vemos esse mesmo homem, Robert Fabry (August Diehl), engenheiro, dono de uma empresa de construção, chegando a um escritório de advocacia. Conversa com o que parece ser o dono do escritório, que lhe diz que a dra. Carolin Winter (Katja Riemann), muito competente, já preparou o esboço de contrato para ele. Leva Fabry à sala da dra. Winter – o espectador vê que a dra. Winter é a moça da primeira seqüência, a da banheira, mas Fabry, antes do espectador, reconhece nela a mulher que ele acabou de comer na noite anterior – apesar de uma não parecer muito com a outra. Convida-a para jantar, com uma certa insistência, uma certa brutalidade.



Cena do filme "UMA OUTRA MULHER"


Corta, e os dois estão jantando. Depois vão dançar, e ele a ataca com selvageria, primeiro na pista de dança, depois num canto qualquer do hotel; a advogada, recatada, assustada, foge dele como o diabo da cruz.

Ah! Temos então um caso de dupla personalidade: a recatada dra. Winter, assim como o dr. Jekyll, guarda um Mr. Hyde dentro de si, e de noite ataca como Carlotta, a puta de peruca, maquiagem pesada e vestido vermelho. Sei, sei.

A loucura está só começando. Teremos em seguida um quadro de obsessão, incesto, auto-mutilação, alcoolismo, tentativa de fatricídio, de assassinato, e muito mais.

De fato: para quem gosta de muita doença, muita piração da cabeça, eis aí um prato cheio.

Os atores estão todos bem. A atriz Katja Riemann, que faz a advogada de duas personalidades, é ótima.

Dona Margarethe Von Trotta – atriz de vários filmes de Rainer Werner Fassbinder e de Volker Schlöndorff, com quem foi casada durante 20 anos, e diretora de mais de uma dezena de filmes a partir de 1975 – tem uma fixação por espelhos. Em uma de cada quatro tomadas, há um espelho refletindo seus personagens pirados. Talvez seja uma maneira de dobrar a piração contida em cada cena.




https://50anosdefilmes.com.br/2008/uma-outra-mulher-ich-bin-die-andere/


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