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Ser Ou Não Ser | Ernst Lubitsch | EUA | 1942

Atualizado: 16 de abr. de 2020

A!!! O alemão Ernst Lubitsch (1892–1947) será eternamente lembrado como um dos maiores nomes da comédia no Cinema. Adorado por outros mestres, entre eles o não menos genial Billy Wilder, Lubitsch foi três vezes indicado ao Oscar, sem sair vencedor em nenhuma delas, até receber a estatueta dourada, em 1947, nove meses antes de sua morte, por sua contribuição à arte cinematográfica. Entre as obras-primas do humor deixadas por ele, destaca-se "Ser Ou Não Ser" (EUA, 1942), com a belíssima presença de Carole Lombard (1908–1942) em sua última atuação, atriz que faleceu tragicamente logo após as filmagens, no auge da carreira. Segundo Octavio Caruso, em seu texto para Devo Tudo ao Cinema, "para os jovens cinéfilos que estão iniciando nesta maravilhosa jornada, reflexos deste filme podem ser percebidos em 'Bastardos Inglórios', de Quentin Tarantino. Em ambos, o nazismo é vencido ludicamente pela arte". Leia abaixo o texto completo de Octavio.




“Ser Ou Não Ser”, de Ernst Lubitsch

Por Octavio Caruso

Falar do diretor alemão Ernst Lubitsch sem citar o famoso “Lubitsch Touch” (Toque Lubitsch) seria impossível, pois faz parte de sua mitologia. A expressão que busca descrever o estilo único do diretor tem sido discutida, através das décadas, por cinéfilos e profissionais da crítica. Dentre as várias definições já elaboradas, cada uma mais criativa que a outra, esta é a minha favorita: “O elegante uso da piada sobreposta. O roteiro já serviu a piada ao público, que sorri satisfeito. Então o roteiro apresenta na sequência uma piada ainda mais engraçada, que o público não esperava”.

Billy Wilder, um dos maiores fãs dele (em seu escritório havia uma placa que dizia apenas: “O que Lubitsch faria? ”), definiu a arte de seu ídolo: Sempre surpreender o público. Algo que o pupilo aprendeu muito bem e fez uso em seus trabalhos, como no clássico e inesperado: “Ninguém é perfeito”, no desfecho de seu “Quanto Mais Quente Melhor”. Eu definiria de forma um pouco diferente, pois acredito que a genialidade do diretor residia na sua incrível capacidade de manter suas obras simples e acessíveis, mesmo envoltas no maior refinamento. Os temas podiam ser sofisticados, os diálogos muito inteligentes, mas sua forma de apresentá-los era humilde e generosa. Como um bom anfitrião, ele queria que todos se divertissem em suas festas.

Utilizar o nazismo como pano de fundo para uma comédia era algo bastante arriscado na época. Chaplin havia enfrentado Hitler dois anos antes, em “O Grande Ditador”, o seu filme era um drama com toques de humor, onde o ponto alto consistia em um belo e sério discurso humanista. Lubitsch gargalhou na cara dos nazistas sem nenhum subterfúgio. A sua ousadia foi tanta que causou o fracasso da obra em sua estreia, com o público se recusando a pagar para rir de algo tão ameaçador quanto os nazistas.

Frases ditas no filme, como a sensacional resposta do oficial alemão quando perguntado sobre o ator, vivido por Jack Benny, causaram polêmica: “Eu o conheço, ele protagonizou uma vez em Hamlet. O que ele fez com Shakespeare, nós estamos fazendo com a Polônia”. Para os jovens cinéfilos que estão iniciando nesta maravilhosa jornada, reflexos deste filme podem ser percebidos em “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino. Em ambos, o nazismo é vencido ludicamente pela arte.

Os componentes da companhia teatral estão em constante disfarce, utilizando o talento como arma contra a violência bestial. Eles começam procurando vencer o medo com humor, satirizando Hitler em suas apresentações, acabam descobrindo que a gargalhada apenas adia ou enfraquece o medo, não o subjuga. O medo do personagem vivido por Jack Benny é compartilhado por quase todos os atores: A rejeição.

A sua esposa, vivida por Carole Lombard, que viria a falecer logo depois das filmagens em um desastre de avião, marca encontros furtivos com um jovem nos bastidores, enquanto seu marido defende o clássico e longo monólogo de Shakespeare. Ele percebe que o jovem se levanta enquanto ele inicia o solilóquio, mas mesmo após descobrir a razão, ele ainda se questiona sobre sua capacidade de entreter seu público.

Esta piada já estabelecida ao longo da obra entrega, na cena final, um impagável clássico símbolo do “Lubitsch Touch”.



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