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O Passado | Hector Babenco | Argentina|/Brasil | 2007

Atualizado: 16 de abr. de 2020

"O passado", penúltimo longa-metragem de Hector Babenco, é um dos seis filmes do diretor presentes no Belas Artes À La Carte. Estrelado pelo mexicano Gael García Bernal e com Paulo Autran em sua última atuação no cinema, este cult", à época do seu lançamento, trazia no material promocional a informação de que "a separação também pode ser parte de uma história de amor". Poético e intimista, o filme pode ser isto e muito mais. Afinal, "Babenco é um homem de surpresas - e sua ótima e ambígua catarse é a maior delas", conforme definiu o crítico Érico Borgo, no texto que você vai ler a seguir.


O Passado

Hector Babenco crê que "a separação também pode ser parte de uma história de amor"

ÉRICO BORGO


Quatro anos após o sucesso Carandiru, o "brasileiro nascido na argentina" Hector Babenco retorna às telas - mas não ao seu cinema. O próprio cineasta confessa em entrevistas que se cansou dos temas sociais. Agora quis focar suas lentes na emoção, na poesia. Conseguiu. O Passado é todo sentimento.

O filme é baseado no romance homônimo, do argentino Alan Pauls, e uma co-produção Brasil/Argentina. Mais de 90% do filme, porém, é falado em espanhol. Ele conta a história de Rimini e Sofia, dois adolescentes que se casam, ficam juntos por 12 anos e resolvem se separar. A partir daí, Rimini, tradutor, tenta recomeçar sua vida, mas a presença constante de Sofia faz-se sentir o tempo todo.

Executado com a competência fílmica habitual do cineasta (é uma certa redundância ficar aqui discorrendo sobre suas qualidades técnicas), O Passado é um filme elaborado e desconcertante. Beira o melodrama, mas se agarra às bordas, alternando os momentos de (breve) felicidade de seu protagonista (vivido com segurança por Gael Garcia Bernal, de Diários de Motocicleta), com suas pequenas tragédias, orquestradas pela personagem de Analía Couceyro (Geminis).

A relação entre os dois pós-separação (ou a falta de uma relação) é passível de uma interessante discussão. Não é um filme que se esgota ao acender das luzes. A alguns Sofia parecerá exagerada, insana. A outros, real. Já a passividade de Rimini irritará boa parcela do público masculino - enquanto outros o definirão como um homem dos nossos tempos, sua autoridade doméstica perdida. Ele avança, busca novos relacionamentos, cresce. Mas não enxerga o elástico em torno de sua cintura, um que está amarrado lá atrás, a Sofia e a uma caixa de fotos fechada, aguardando partilha.

Aliás, conforme tensiona esse elástico do tempo, Babenco intensifica um suspense envolvente e inesperado, dada a frase que assina o material promocional do filme - "a separação também pode ser parte de uma história de amor". É uma história de amor que esperamos, mas Babenco é um homem de surpresas - e sua ótima e ambígua catarse é a maior delas.


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