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O MENINO QUE FAZIA RIR | CAROLINE LINK | 2018 | ALEMANHA


Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"

Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"


Um menino que faz rir e emocionar. E o que torna a história do alemãozinho mais fofo dos últimos tempos ainda mais especial é saber que ela aconteceu de verdade. "O Menino Que Fazia Rir" (Alemanha, 2018), filme de Caroline Link, disponível no streaming À La Carte, nos leva à infância de Hape Kerkeling, o comediante mais amado da Alemanha. Para se ter uma ideia da popularidade de Hape Kerkeling em seu país, esse filme levou 3,6 milhões de alemães aos cinemas!

Dar risada com lágrimas nos olhos é possível? Com esta delícia de filme, sim. Mas nem tudo foram flores na vida desse menino. Porém, as experiências mais duras pelas quais ele teve que passar só o fortaleceram ainda mais. E melhor ainda, o pequeno Hape Kerkeling ajudou pessoas adultas a lidarem com suas dores com leveza, humor e sabedoria.

Segundo o crítico Bruno Carmelo, em sua crítica publicada no site Papo de Cinema, "...o singelo filme alemão privilegia a tese (louvável ou criticável, a gosto) de que é preciso se expor às dores da vida, porque elas nos tornarão mais fortes e farão de nós quem somos de fato na vida adulta". Leia abaixo o texto completo.


Crítica

Por Bruno Carmelo


Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"

Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"


A resposta se encontra em duas vertentes: a primeira seria a predisposição natural à comédia e à performance. De acordo com a narrativa, desde os primeiros anos de vida o garoto já seria fascinado por programas de televisão com esquetes humorísticas. Podemos falar portanto de um talento inato, misturado com a noção de um destino traçado. A segunda vertente, mais interessante tanto do ponto de vista psicológico quanto cinematográfico, diria respeito à percepção de Hans-Peter sobre o humor como antídoto à tristeza. Confrontado a duas perdas importantes durante a juventude, ele teria utilizado a mímica e a caricatura de outras pessoas para combater o próprio pesar e aquele das pessoas ao redor. Diante de uma ou mais tragédias, Hans-Peter imediatamente improvisa algum personagem capaz de aliviar as dores, trazer algum sorriso em meio às lágrimas. O humor se torna, portanto, remédio.

Este ponto de partida se revela perigoso por sugerir, como diriam os mais românticos, que o talento para a arte nasce da frustração, da dor, sublimadas numa forma de expressão poética. Ora, este ponto de vista parece justificar a marginalidade do artista enquanto “predisposição natural”, como se ele precisasse enfrentar a precariedade (material ou emocional) para aperfeiçoar seus dotes. A relação de causa e consequência entre tristeza e talento artístico tem contribuído historicamente a afastar a arte do ponto de vista de profissão, sendo vista preferivelmente pelos prismas de passatempo, distração, improviso. Felizmente, o roteiro foge um pouco à rigidez das narrativas sobre os “Pagliacci”, os “palhaços tristes”, ao se colocar rigidamente no ponto de vista dele, ao invés do olhar externo. Assim, consegue representar a dificuldade natural das crianças em lidar com a complexidade da vida adulta.


Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"

Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"


A diretora não se mostra muito afeita a sutilezas, preferindo uma gangorra emocional entre euforias e depressão profunda, sem meios-termos. Os momentos alegres são multicoloridos, ensolarados, passados em planícies verdejantes com a família reunida, brincando, ao som de música de acordeões e xilofones (algo bastante próximo das composições de Yann Tiersen para O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001, diga-se de passagem). Já os instantes de morte são coroados pelo silêncio pesado, as sombras dentro de casa, a música triste de pianos, os rostos cobertos de lágrimas, o tom sinistro – até a chegada de Han-Peter com sua próxima piada, é claro. “É preciso seguir em frente”, dizia o avô do garoto, fornecendo o lema de vida adotado por esta criança muito mais madura que a média dos meninos de sua idade.

É certo que O Menino que Fazia Rir recai na idealização do biografado, seguindo fielmente as amarras do feel good movie, para o qual qualquer emoção deve ser duplicada e ressaltada pela estética, garantindo que não há ambiguidades para o espectador. Este é um cinema de facilidades, afinal: as escolhas imagéticas são um tanto simples, a alternância euforia-melancolia também opera de maneira esquemática. Mesmo assim, a produção se revela bastante competente, não apenas na escolha de atores, todos muito bons em suas funções (com destaque para o protagonista Julius Weckauf, verossímil enquanto criança destinada ao futuro nas artes) quanto no uso do steadycam para a fluidez, na montagem invisível e eficaz, e na organicidade dos saltos temporais.


Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"

Cena do filme "O MENINO QUE FAZIA RIR"


Em outras palavras, este é um produto de ambição narrativa limitada, porém confiante na vocação do cinema em dialogar diretamente com os sentimentos, provocando uma catarse através do choro ou riso – e, se possível, dos dois. Esta é uma história recheada com lições de vida e figuras exemplares (a mãe amorosa, a avó querida, os colegas de escola tirânicos) na qual o biografado se torna um exemplo a seguir – não por sua condição de celebridade, e sim pela configuração de criança que soube utilizar suas tristezas como ferramenta para se reinventar. “Às vezes, a vida não é fácil, não é, Hans-Peter?”, confessa o avô carinhoso. Ao invés de proteger a criança das dificuldades, de minimizar a dor do luto ou proibir a presença num velório, o singelo filme alemão privilegia a tese (louvável ou criticável, a gosto) de que é preciso se expor às dores da vida, porque elas nos tornarão mais fortes e farão de nós quem somos de fato na vida adulta.




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