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O Amigo Americano | Alemanha/França | 1977 | Wim Wenders

O suspense “O Amigo Americano” (Alemanha/França, 1977), dirigido pelo alemão Wim Wenders, é uma adaptação do livro “O Jogo de Ripley”, da escritora norte-americana Patricia Highsmith. A trama tem como protagonista o antológico personagem Ripley, o mesmo de outros romances de Patricia, alguns deles já adaptados para o cinema em filmes bastante famosos, como o clássico “O Sol por Testemunha” (1960), de René Clément, e "O Talentoso Ripley" (1999), de Anthony Minghella. Aprovado pela própria escritora, “O Amigo Americano” conta com uma dupla de grandes atores nos papeis principais: os saudosos Dennis Hopper e Bruno Ganz. Em crítica publicada na Folha de S. Paulo, o crítico Cássio Starling Carlos observa que “o Ripley quase sempre sedutor e antipático em suas outras encarnações no cinema é aqui substituído por um Dennis Hopper em estado de graça, pronto para devolver ao personagem suas ambiguidades originais”. Confira abaixo o ótimo texto na íntegra.

Wenders estuda América mítica em thriller

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA "Olhos não se compram." Uma das primeiras falas do personagem interpretado por Nicholas Ray é um dos temas principais desse filme de tantos temas que é "O Amigo Americano". Realizado por Wim Wenders em 1977, o filme carimbou o passaporte do cineasta alemão para o território mítico da América, que desde o início assombrava sua obra. Adaptado com bastante liberdade de "O Jogo de Ripley", um dos romances que Patricia Highsmith dedicou a esse anti-herói sem nenhum caráter, o filme de Wenders é ao mesmo tempo um thriller existencialista, uma reflexão sobre o status das imagens e um tributo de cinéfilo. Do romance de Highsmith, Wenders guardou a ossatura da trama e se apropriou para transformá-lo em exercício de autoria. O Ripley quase sempre sedutor e antipático em suas outras encarnações no cinema é aqui substituído por um Dennis Hopper em estado de graça, pronto para devolver ao personagem suas ambigüidades originais. Mas seu Ripley funciona também como passagem para outro território, o da cinefilia, ao qual Wenders pertence e presta tributo. A começar pelo elenco, carregado de nomes de diretores: Nicholas Ray, Samuel Fuller, Gérard Blain, Peter Lilienthal, Daniel Schmidt, Sandy Whitelaw e Jean Eustache, além do próprio Hopper, diretor do clássico road movie "Sem Destino", um gênero fundamental na gênese dos filmes de Wenders. Essa opção de culto, entretanto, permaneceria encerrada no círculo fechado da cinefilia e às alusões autorais se Wenders não ousasse transformar ídolos em personagens. É com essa inteligência que o diretor alemão opera ao despir seus cineastas-fetiches da aura de fantasmas pessoais e transportá-los para diante da câmera, onde os faz desempenhar papéis de falsários, de gângsteres e de assassinos de aluguel, gente movida por dois desejos: morte e dinheiro. Com essas personalidades-personagens, "O Amigo Americano" transpõe seu significado de filme de gênero ou exercício de estilo para o universo da reflexão sobre o próprio cinema. Ao usar seus artistas-bandidos, Wenders lança para seu público uma questão que se tornará central em muitos de seus filmes seguintes: nesse mundo da criação movido pela ganância que é o cinema, é possível a um artista permanecer sem se aniquilar? Sob a aparência de thriller existencial, "O Amigo Americano" é também a parábola de um mundo em que a vontade de arte foi substituída pelo dinheiro, e a criação, pela falsificação. Dentro dele só resta a morte. E é nesse filme que as indagações pessoais do diretor sobre a morte da imagem se concretizam sob a forma de puro cinema, sem falação e sem didatismo teórico. Com ele, Wenders demonstra ao espectador como era capaz de pensar o cinema ao mesmo tempo que o fazia.



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