
Diretor Sylvio Back, filmando Lost Zweig
"Lost Zweig" (Brasil, 2002) é um filme brasileiro, dirigido por Sylvio Back, com roteiro adaptado do livro "Morte no Paraíso: A Tragédia de Stefan Zweig", do escritor Alberto Dines. O filme retrata parte da vida do escritor austríaco Stefan Zweig no Brasil. Zweig, na época da Segunda Guerra, trocou seu país natal pelo Brasil, onde permaneceu até sua trágica morte. Ele e sua esposa Lotte, em um misterioso pacto de morte, decidiram se matar na semana seguinte ao Carnaval de 1942. No filme, o trágico fato é brilhantemente interpretado pelo alemão Rüdiger Vogler, um dos atores preferidos de Wim Wenders, e pela austríaca Ruth Rieser, num elenco que reúne ainda Daniel Dantas, Denise Weinberg, Odilon Wagner, Renato Borghi e Daniel Boaventura, e vários outros ótimos atores brasileiros. Quanto ao tratamento dado pelo diretor, o crítico José Geraldo Couto diz o seguinte, em crítica publicada na Folha: "Back conduz com delicadeza esse duplo réquiem (por uma civilização e por um homem)". Leia abaixo a publicação na íntegra.

Cena do filme: Lost Zweig
Filme sobre a vida de Stefan Zweig no Brasil estreia hoje, quatro anos após conclusão, e une história individual e coletiva
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em "Lost Zweig", que estréia finalmente nos cinemas, quatro anos depois de concluído, a história coletiva e a biografia individual se fundem de modo inextricável.
Ao se suicidar em Petrópolis (RJ) com sua segunda mulher, Lotte, uma semana depois do Carnaval de 1942, o escritor austríaco Stefan Zweig lançou uma incômoda luz sobre os destinos do mundo (em particular da Europa conflagrada), do povo judeu e do próprio Brasil, sobre o qual ele havia escrito, em 1936, o célebre livro "Brasil, País do Futuro".
Mas o diretor Sylvio Back, ao se debruçar sobre o tema (ao qual já havia dedicado o documentário "Zweig: a Morte em Cena"), não se serviu do drama do escritor apenas como "gancho" para falar sobre a guerra, o extermínio dos judeus pelos nazistas e a postura ambígua da ditadura Vargas. O suicídio como questão humana e filosófica é o "leitmotiv" que pontua todo este filme. Cabe lembrar que o próprio Sylvio Back é filho de um suicida.
Sob esse prisma, o embate central de "Lost Zweig", entre o escritor exilado e o ditador Getúlio Vargas, ganha uma dimensão ainda mais tocante. Numa cena chave, esses dois futuros suicidas conversam sobre um terceiro, Santos Dumont, cuja biografia Getúlio tenta convencer Stefan Zweig a escrever.

Escritor austríaco: Stefan Zweig

Poster do documentário: Zweig A Morte em Cena
Tom elegíaco
Back conduz com delicadeza esse duplo réquiem (por uma civilização e por um homem). O tom elegíaco se reflete nos longos planos, nos movimentos comedidos de câmera, na predominância das cores frias e dos tons pastel, na discreta reconstituição de época, no "cool jazz" da trilha sonora e na atuação densa, contida dos protagonistas -o alemão Rüdigler Vogler e a austríaca Ruth Rieser.
É uma tragédia "de câmara", em surdina, sem estardalhaço, que toca o sublime na cena que Back imaginou para Lotte no intervalo entre a morte do marido e a dela própria.
Nesse contexto, o que destoa é a caracterização um tanto caricatural de Getúlio Vargas (Renato Borghi) e de Orson Welles (Thelmo Fernandes), como se a tragédia européia ecoasse nas Américas como farsa.
Isso não tira a força desse retorno de Sylvio Back à sua melhor forma, depois de documentários que foram prejudicados pela intenção sarcástica e de um "Cruz e Souza" alegórico e teatral.
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