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EU SOU CUBA | MIKHAIL KALATOZOV | 1964 | CUBA/UNIÃO SOVIÉTICA


Luz María Collazo no filme "Eu sou Cuba"

Luz María Collazo no filme "Eu sou Cuba"


Um filme feito para promover a revolução cubana e o socialismo da União Soviética, mas que acabou não agradando a nenhum dos lados. "Eu Sou Cuba" (Cuba/União Soviética, 1964) foi realizado quando a União Soviética enviou a Cuba o diretor Mikhail Kalatozov, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes por seu filme “Quando Voam as Cegonhas” (1957), para fazer um filme para celebrar a revolução cubana. Kalatozov chegou a Cuba uma semana após a malfadada invasão da Baía dos Porcos, quando a revolução ainda estava sendo vencida e o povo cubano permanecia otimista quanto ao futuro. As filmagens continuaram, também, na época da crise dos mísseis cubanos.

No fim, tanto os soviéticos quanto os cubanos ficaram desapontados com o resultado. A União Soviética reclamou que o filme se concentrava demais na arte pela arte e não em uma mensagem “para o bem do povo”. Em Cuba, a obra foi chamada de "eu não sou Cuba". Os cubanos nunca se reconheceram no filme, que foi visto como uma representação de Cuba imposta a eles pela União Soviética.

Independente dos motivos que o originaram, “Eu Sou Cuba”, disponível no streaming À La Carte, é um filme que vale muito a pena conhecer, principalmente pelas suas brilhantes qualidades artísticas, com direção e recursos técnicos que até hoje impressionam. A famosa e longa tomada que começa no topo do hotel, com a câmera descendo até mergulhar na piscina, captando belíssimas imagens subaquáticas, continua a ser um acontecimento antológico na história do cinema.

A cinéfila Fernanda Cavalcanti ressaltou muito bem os méritos do filme no ótimo texto que você pode ler abaixo, publicado originalmente no site Vitamina Nerd. Segundo ela, “’Eu Sou Cuba’ tem tramas bem escritas e aspectos técnicos de cair o queixo, ao mesmo tempo que fala sobre a história de Cuba”.



Eu sou Cuba

Antes, durante e depois da revolução

Por Fernanda Cavalcanti


Cena do filme "Eu sou Cuba"

Cena do filme "Eu sou Cuba"


Eu sou Cuba retrata Cuba desde o governo de Fulgencio Batista até a revolução cubana, através de quatro histórias diferentes, que não se relacionam.


As histórias

O filme usa quatro histórias fictícias para narrar fatos históricos, e essas tramas não se relacionam entre si, mas mostram a realidade do país antes, durante e depois da revolução.

A primeira história acompanha Maria (Luz María Collazo), uma jovem que se prostitui, mas esconde isso de seu namorado, Rene, até que as suas duas vidas se cruzam de maneira irremediável. Na segunda, conhecemos Pedro (José Gallardo), um camponês que descobre que teve suas terras vendidas a uma empresa.

Já a terceira história é mais política e fala sobre Enrique (Raúl García), um estudante universitário que deseja a revolução, mas acha que o povo está se esforçando pouco para que isso aconteça e, para tal, resolve tomar a situação em suas mãos. A quarta e última história retrata uma família de camponeses que tem a sua terra bombardeada pelas forças de Batista.

Para além disso, Eu sou Cuba também mostra como o país era em cada um desses períodos retratados, o que em alguns momentos faz a produção parecer um documentário.


Cena do filme "Eu sou Cuba"

Cena do filme "Eu sou Cuba"


A origem de Eu sou Cuba

Logo depois da revolução cubana, o governo de Fidel Castro se uniu a União Soviética para favorecer várias áreas do país, e uma delas era o cinema. A União Soviética, na época, estava interessada em promover o socialismo e aceitou colaborar com o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos para fazer um filme sobre a revolução cubana.

O diretor Mikhail Kalatozov teve liberdade artística e ajuda tanto da União Soviética quanto do governo cubano. Ele usou técnicas inovadoras para a época, e mesmo assim Eu sou Cuba não foi bem recebido nem por Cuba, nem pela União Soviética. Para os cubanos, o filme usava de estereótipos para retratar o povo do país e para os soviéticos o filme era ingênuo e não revolucionário o suficiente. No resto do mundo, Eu sou Cuba não ganhou destaque porque era um filme socialista.

Nos anos 1990, o filme foi exibido no festival Telluride Film Festival e começou a chamar a atenção. Eu sou Cuba passou a ser exibido em outros festivais e logo ganhou uma restauração.


Cena do filme "Eu sou Cuba"

Cena do filme "Eu sou Cuba"


Aspectos técnicos de Eu Sou Cuba

Este é um filme com propósitos políticos bem claros, a ideia é promover a revolução cubana e o regime socialista de Fidel Castro, no entanto, o longa não tem só essa preocupação e nem faz uma propaganda tão explícita. Nenhuma das histórias, por exemplo, se passa depois da revolução cubana e nos mostra como de fato era o governo de Castro, as tramas ou se passam antes da revolução e retratam a vida em Cuba no governo de Batista, ou se passam durante a revolução e exemplificam a esperança dos personagens com as possíveis mudanças que virão.

Chama a atenção o fato de as histórias terem componentes críticos, mas ainda assim, se preocuparem com roteiros interessantes e bem-feitos, ainda que simples. Claro que algumas tramas são mais interessantes que outras, como acontece com a primeira história, que retrata uma jovem que se prostitui escondida do namorado.

Mas para além disso, Eu sou Cuba também tem uma grande qualidade técnica. Como o diretor teve bastante liberdade nas horas da filmagem, ele conseguiu usar de várias técnicas inovadoras para a época, como por exemplo, uma câmera com lentes que podiam entrar na água. O filme, que é filmado em preto e branco, tem uma fotografia linda e sequências muito interessantes, como por exemplo, a cena da piscina, onde vemos as pessoas nadando embaixo da água ou a cena do baile, onde Maria é jogada de um homem para outro, em uma espécie de dança depravada.

Como o filme tem muitos personagens e muitas tramas, o elenco, de uma maneira geral, não se sobressai, todo mundo está bem dentro dos seus personagens, mas tem pouco tempo de tela e por isso, tudo soa muito harmonioso.

Eu sou Cuba tem tramas bem escritas e aspectos técnicos de cair o queixo, ao mesmo tempo que fala sobre a história de Cuba.




Texto completo no blog Vitamina Nerd






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