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Balzac e a Costureirinha Chinesa | Sijie Dai | França/China | 2002

Atualizado: 16 de abr. de 2020

Disponível no Belas Artes À La Carte, “Balzac e a costureirinha chinesa” é um lindo filme, indicado para quem ama cinema e literatura! Fenômeno de vendas na França, no ano de 2000, o livro homônimo, escrito pelo chinês Dai Sijie, foi levado ao cinema com direção dele próprio e foi atração de abertura da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2002. Tão maravilhoso quanto o livro, este cult é cheio de delicadeza, intensidade e simplicidade eloquente na justa medida, como bem disse Neusa Barbosa na ótima crítica que você vai ler a seguir.



Crítica Cineweb


No inverno de 2000, o livro Balzac e a Costureirinha Chinesa, do escritor chinês Dai Sijie, tornou-se um fenômeno na França, vendendo de saída 250.000 exemplares. O sucesso levou à transformação em filme, também dirigido por Dai, que foi escolhido para abrir a prestigiada seção Un Certain Regard do Festival de Cannes/2002.

Não é difícil entender a pronta comunicação da história com o público, seja no livro, seja no filme. Em primeiro lugar, porque ela transpira originalidade e força humana, provavelmente por ter suas raízes em experiências vividas pelo próprio escritor, roteirista e diretor. Em 1971, quando contava 17 anos, Dai viveu por dentro a famigerada "Revolução Cultural", liderada pela mulher de Mao Tsetung e o chamado "Bando dos Quatro", que transformava em suspeitos intelectuais, estudantes ou pessoas de cultura. Por esse viés, indivíduos assim deveriam ser enviados ao campo para "reeducação". Um processo que o então jovem estudante Dai viveu por quatro anos, numa remota aldeia do norte da China. Desde 1987, ele está radicado na França.

Fosse apenas um relato autobiográfico, talvez não transpirasse tanto humor, paixão e intensidade. Mas Dai é um escritor de talento, que soube temperar com a sua imaginação episódios de sua vida e não se furtou a ampliá-los, igualmente, tendo em vista a adaptação cinematográfica. Assim, quem leu o livro notará um adendo no final mas que se ajusta perfeitamente às necessidades narrativas do cinema e não trai de modo algum a história original.

O alter ego do escritor é Ma (He Liu) que, junto com amigo Luo (Kun Chen), é enviado para reeducação numa aldeia nas montanhas. Seu "crime" é serem filhos de "intelectuais reacionários", um médico, outro dentista. Assim, os dois estudantes, amantes de música e literatura, são obrigados a trabalhar em tarefas braçais, como as minas de carvão e transporte de esterco para adubo.

Mas não escapa ao rígido chefe da aldeia (Shuangbao Wang) que os dois rapazes são bons de conversa e os únicos alfabetizados. Pelos dois motivos, eles são encarregados ainda de uma outra missão: ir à aldeia próxima toda vez que ali for exibido um filme novo e contar a história para a comunidade. Um relato acompanhado de uma apresentação de violino do jovem Ma, que engana o rigor revolucionário do chefe da aldeia, escondendo a origem ocidental das melodias que toca, identificando-as como "Mozart está pensando no camarada Mao" e coisas parecidas.

Outro personagem de destaque nas redondezas é o velho alfaiate (Zhijun Cong), responsável pela confecção das roupas de todo mundo. Na bagagem, o velho mestre traz uma inestimável máquina de costura e uma pérola muito mais preciosa, aos olhos de Ma e de Luo: sua jovem e bela neta, a costureirinha (Xun Ziiou). O trio viverá as mais intensas aventuras, especialmente a partir do momento que se apodera de um inesperado tesouro: uma bolsa cheia de romances ocidentais, escondida por outro "reeducando", Quatro-Olhos (Hongwei Wang).

A partir do momento em que todos estes elementos se combinam - a paixão de Luo e Ma pela costureirinha e o mútuo compartilhamento do amor pela literatura de Balzac, Flaubert, Tolstói, Victor Hugo - a história realmente diz ao que veio. Em torno desse eixo, o enredo constrói a matéria-prima do melhor da experiência humana, em torno da possibilidade eterna de mudança a partir do contato com novas ideias, ou do poder indestrutível da literatura, ou da inevitabilidade da procura de liberdade, não importa em que tempo, idade, ou regime político. Cada um poderá extrair do filme o detalhe que mais lhe convier. O importante é que a história está construída com delicadeza e intensidade capazes de fornecer todas essas diversas e emocionantes leituras, com uma simplicidade eloquente na justa medida.

Neusa Barbosa

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