top of page
Buscar

Andrei Tarkovsky | 1932–1986

Andrei Tarkovsky (1932–1986), o mais famoso cineasta russo desde Sergei Eisenstein. Apesar de ter realizado poucos filmes, suas obras hoje são consideradas essenciais para a formação de todo cinéfilo, entre elas "Andrei Rublev"(Rússia, 1966), que ganhou o prêmio FIPRESCI, no Festival de Cannes; "Solaris"(Rússia, 1972), também consagrado em Cannes, com o Prêmio do Júri; e "Stalker"(Rússia, 1979), um dos seus filmes mais reverenciados. Segundo Ingmar Bergman, um dos cineastas mais geniais de todos os tempos, Tarkovski era “o maior (de todos nós), aquele que inventou uma nova linguagem, fiel à natureza do cinema, uma vez que capta a vida como um reflexo, a vida como um sonho". Para o crítico Inácio Araujo, da Folha de S. Paulo, Tarkovsky é "um cineasta para quem o cinema não é uma arte na qual se deposita alguma ideia, algum conhecimento: ela é a própria fonte desse conhecimento". Leia abaixo o texto completo.

Andrei Tarkovski é o artista puro e ganha semana no Belas Artes

Mostra é chance para conhecer ou rever a obra do cineasta russo em tela grande

Inácio Araujo

Não é fácil gostar de Andrei Tarkovski, a quem o Belas Artes, em São Paulo, dedica uma semana com três de seus sete longas até 16 de janeiro. Ele é, como lembra o crítico Jean Douchet (graças a quem eu passei a gostar de Tarkovski e a entendê-lo um pouco), o artista puro. Aquele que não pede licença para expor sua arte integralmente e sem concessões.

E um cineasta para quem o cinema não é uma arte na qual se deposita alguma ideia, algum conhecimento: ela é a própria fonte desse conhecimento.

Talvez o mais antigo dos filmes desse ciclo, "Andrei Rublev" (1966) se abra de maneira a deixar clara essa formulação: é do alto, para onde se lança o balão, que o mundo deve ser visto. Longe dos constrangimentos do humano, das circunstâncias do tempo.

Ao mesmo tempo, "Rublev" afirma a, digamos, oposição de Tarkovski ao sistema soviético. Não apenas por ser o artista um pintor de ícones. Douchet lembra, aliás, que esse é provavelmente o único filme em que o pintor- protagonista não pinta.

Ele coloca, no entanto, a questão sobre o que representar: o mundo em que vive, e que vê, e o mundo que deseja.

Essa tensão já é bem significativa dos problemas do autor com o regime. Talvez venha daí também a afirmação, a horas tantas, de que os conhecimentos são parciais, finitos, o amor, não. Postula-se aí algo que está além do racionalismo materialista.

Se "Rublev" nos lança nos 1400, "Solaris" (1971) vai a um futuro indeterminado, em que os homens buscam, numa estação espacial, resolver o problema representado por uma entidade, o Oceano, que provoca estranhos efeitos, alucinatórios, nos astronautas.

Alucinatórios não é uma boa palavra. São uma espécie de duplos de seres terrenos. Assim surge Hari, que na Terra foi casada com o astronauta Kelvin, na estação espacial. Não uma alucinação, mas, como lembra um colega de Kelvin, ela é a materialização da ideia dele sobre Hari.

Muda a época, do medievo para o futuro, mas as questões, nem tanto. Da estação espacial se vê do alto e à distância. Estamos numa estrutura dominada pela razão em que o irracional se insere: Kelvin se apaixona pela Hari idealizada.

Pode-se parafreasear Douchet: eis o único filme de astronauta em que ninguém usa a nave para se deslocar (a exceção é Hari, mas por motivos bem especiais).

Mas é sobretudo em torno das relações do homem com a natureza que o filme se desenvolve. Pois ele se abre na água e termina retornando à água, para depois a câmera subir, como o balão de "Rublev", afastando-se da Terra, para mostrar... a Terra. Mas uma Terra que, à distância, parece uma ilha cercada pelo Oceano.

A relação do homem com a natureza e as tensões entre saber (razão) e arte (conhecimento além da razão) retornam, sem dúvida, em "Stalker" (1979). O filme da ruptura clara com o regime soviético.

Pois trata-se, ali, de um guia disposto a levar, contra tudo, dois viajantes à Zona, isto é, o local proibido onde o homem se defronta consigo mesmo e com os próprios desejos.

Fuga, de certa forma: não para o exterior, mas para o interior, para dentro. Estamos de novo numa ficção científica, mas dessa vez ela lembra muito a URSS, pela repressão, pelo clima, pelo sombrio, pela precariedade.

Ainda uma vez, no entanto, Tarkovski impõe a ideia de que o homem foi criado pela natureza para que aprendesse com ela. Ainda uma vez, filma a natureza, seus elementos, como quem deseja se afastar das fraquezas do homem.

Ainda assim, não se trata de um cinema niilista. A afirmação de que o homem precisa do homem, de que o homem precisa de um espelho (e não de alargar seus domínios) é mais que um consolo, é quase uma exortação.

Este ciclo é uma bela maneira, para quem conhece o cineasta russo apenas por DVD, de ver em tela grande a extensão de sua força. E, para quem não o conhece (ou não curte), de entrar em contato com uma das principais obras contemporâneas do cinema. https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/01/andrei-tarkovski-e-o-artista-puro-e-ganha-semana-no-belas-artes.shtml Para assistir aos filmes, clique nos links abaixo: https://www.belasartesalacarte.com.br/andrei-rublev https://www.belasartesalacarte.com.br/stalker https://www.belasartesalacarte.com.br/solaris #filmescults #filmesclássicos #andreitarkovski #andreirublev #stalker #solaris

4.025 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page