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A Regra do Jogo | França | 1939 | Jean Renoir

Atualizado: 16 de abr. de 2020

Diversas vezes considerado o melhor filme já feito, a comédia “A Regra do Jogo”(França, 1939), de Jean Renoir, foi proibida pelo governo francês, cerca de um mês após o seu lançamento, sob a alegação de ofender os bons costumes. Quando a Alemanha ocupou a França, o partido nazista também censurou a obra e queimou muitas das suas cópias. Mais tarde, os negativos originais foram acidentalmente destruídos. Somente em 1956, foram reunidas partes do filme espalhadas por toda a França, o que permitiu uma remontagem acompanhada pelo próprio Renoir, e, segundo ele, ficou faltando apenas uma pequena cena do corte original. Por todos estes motivos, "A Regra do Jogo" é um filme que todo cinéfilo precisa ver antes de morrer!

Reiterando o que já foi dito acima, aqui está um trecho da matéria assinada pelo jornalista Marcelo Rezende, para a Folha de S. Paulo: "Dos negativos destruídos durante a Segunda Guerra (em 1942) e de um momento ainda distante da aclamação mundial que fez de "A Regra do Jogo" o oponente mais constante de "Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles, na disputa ao título de melhor filme já produzido na história." (leia abaixo o texto na íntegra).





Jean Renoir ainda dita "A Regra do Jogo"

MARCELO REZENDE

Quando Jean Renoir (1894-1979) surge no início de "A Regra do Jogo" -um homem de meia-idade um pouco acima do peso, com uma calvice insinuante- e corre em direção ao piloto André Jurieu, avisa: "Não, ela não virá". E não é apenas a marquesa de la Chesnaye, o pivô do riso, do amor e da tristeza desse filme realizado em 1939 -de volta agora aos cinemas em nova cópia- que não chegará para iniciar a ciranda da decadência da burguesia francesa. Renoir anuncia, de maneira involuntária, os anos em que seu filme permanecerá desprezado e incompreendido. A glória, ao menos por enquanto, não virá. Fala do tempo do esquecimento e da tragédia. Dos negativos destruídos durante a Segunda Guerra (em 1942) e de um momento ainda distante da aclamação mundial que fez de "A Regra do Jogo" o oponente mais constante de "Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles, na disputa ao título de melhor filme já produzido na história. Mas o que fez de Renoir um mito -e em grande parte ou, talvez, totalmente, em consequência de "A Regra"- foi sua capacidade de prever mais. Para um país que se dividia entre a direita fascista e a esquerda radical, não sabendo ao certo como lidar com encantamento por um regime de força, "A Regra do Jogo" era, nas palavras do próprio Renoir, "uma descrição exata da burguesia de nosso tempo". Algo que, de alguma maneira, às vésperas da tragédia que foi a guerra, era também o retrato do estrago e de uma certa devassidão. O jovem piloto, antes mesmo de se encontrar com Octave (Renoir o interpreta), já é o novo herói francês por ter atravessado o oceano, solitário, em um avião. E ele conta que fez tudo não pela glória da França, mas por uma mulher. A mesma que não veio. A dama que está ausente porque é casada com um nobre -ou apenas um milionário com um título de nobreza.

Infidelidade Aos poucos os detalhes aparecem. O marquês de la Chesnaye (um colecionador de "objetos mecânicos e sonoros") se relaciona amorosamente com alguém mais do que apenas com sua mulher oficial. Para ele e seu grupo de alta classe, a infidelidade é apenas mais um dado aceitável da vida, que só está sujeito a uma regra: enquanto houver diversão, tudo é aceitável. Todos os amantes -dos apaixonados aos ignorados- se reúnem para uma temporada no campo. E, após bailes, teatro caseiro e uma caçada, a tragédia, motivada pela mágoa, acontece. Um drama de dimensões épicas? Rigorosamente, não. Filho do pintor Auguste Renoir, a educação de Jean se deu na aceitação de que não há dogmas. Há superação. "Penso que a novidade no filme de Renoir está em uma conjunção de gêneros. Renoir sabe que na vida a tragédia se mistura com o burlesco, e o cômico, com o heróico. O grande mérito de 'A Regra do Jogo' é reunir esses gêneros que se acreditava inconciliáveis", escreveu Marcel Lapierre na estréia. Mas a aceitação do talento de Renoir foi custosa. Quando chegou aos cinemas, foi um fracasso. Tentou outra vez em 1948 (uma cópia foi achada em 1946) e, mais uma vez, foi rejeitado. A versão que vemos agora é de 1965, sonhada pelo cineasta e viabilizada com a ajuda do crítico francês André Bazin. Para o diretor François Truffaut, um pouco da história da rejeição vem do fato de que a "Regra do Jogo" é o filme dos cineastas e, por consequência, dos amantes alucinados do cinema. Sua iluminação não nasce do manejo original da técnica ou do efeito. Não há um destaque ou um motivo isolado. "A Regra do Jogo" só acontece quando todos os elementos -especialmente o carinho de Renoir pelos seres que parece desprezar- se unem. Da encenação à angulação correta da câmera. Enfim, o trabalho de um gênio selvagem, como notou rapidamente um brasileiro que, por acaso, visitava Paris em 1939. Seu nome, Paulo Emilio Salles Gomes. Filme: A Regra do Jogo Direção: Jean Renoir Produção: França, 1939 Com: Marcel Dalio, Mila Parély





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