Diretor, roteirista, crítico de cinema, ícone da nouvelle vague, professor... O francês Eric Rohmer (1920-2010) foi um dos maiores cineastas do século XX. Com seu estilo único e inconfundível, ele sabia como ninguém transformar situações simples em tramas cheias de suspense, humor e romances inesperados, com diálogos escritos com raro requinte.
Segundo o crítico André Barcinski escreveu para a Folha de S. Paulo, "sua influência é clara em Woody Allen e Wong Kar-Wai, e até em Tarantino, outro cineasta que adora diálogos longos e intricados, e que elegeu Rohmer um de seus diretores prediletos" (leia mais abaixo a matéria na íntegra).
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Foi-se Eric Rohmer, o cineasta das palavras
André Barcinki
crítico da folha
O cinema está calado. Foi-se Rohmer, o cineasta das palavras. Ninguém, em mais de 100 anos de cinema, filmou tanta gente falando sobre tanta coisa -amor, religião, política, filosofia- quanto ele. Em seus muitos anos como crítico, Rohmer defendeu Hitchcock, Eisenstein, Nicholas Ray, Murnau e Rosselini. Curiosamente, seu próprio cinema não parecia tão influenciado por seus mestres. Enquanto seus ídolos eram cineastas da ação e da montagem, Rohmer preferia as palavras. O francês criou um estilo próprio, literato e lento, menos interessado no que os personagens fazem e mais no que estão pensando. Ou melhor: no que estão falando, enquanto, minutos depois, fazem exatamente o oposto do que disseram. A questão da escolha é central em seus filmes. Seus personagens estão sempre divididos entre duas tentações, entre dois caminhos. Católico fervoroso, Rohmer sempre se interessou pela tentação e pelo papel do acaso no destino. A opção de um personagem, por mais trivial que seja, desencadeia o resto da história. Não há suspense ou drama nos filmes de Rohmer, pelo menos não o tipo de drama que nos acostumamos a esperar do cinema. Seus personagens e suas histórias parecem reais. E só um grande artista para nos mostrar toda a beleza escondida no cotidiano. Essa obsessão pela trivialidade parece ser um pecado para um cineasta, e isso rendeu a Rohmer muitos detratores. De todos os grandes nomes da nouvelle vague, foi o menos prestigiado na própria França. Seus filmes foram considerados impenetráveis exercícios de verborragia. "Eu vi um filme de Rohmer. Era como ver tinta secar", diz o detetive interpretado por Gene Hackman em "Night Moves" (1975), de Arthur Penn. Obcecado pela nouvelle vague e imitador confesso de Godard, Penn certamente incluiu a frase como uma piada. O personagem de Hackman é um brucutu, ex-atleta, para quem Rohmer certamente não interessaria muito. De qualquer forma, é um exemplo interessante de como os filmes de Rohmer afetavam as pessoas. E continuam afetando: sua influência é clara em Woody Allen e Wong Kar-Wai, e até em Tarantino, outro cineasta que adora diálogos longos e intricados, e que elegeu Rohmer um de seus diretores prediletos.
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