Por André Sturm, presidente e curador do Belas Artes Grupo
Diretamente do mais charmoso festival de cinema, Cannes, escreverei meus relatos
sobre esta grande festa!
Se você é dos que acha “Holy Motors” um grande filme, nem precisa seguir lendo este
artigo. Você não vai gostar.
“Annette” foi o filme da sessão de abertura do Festival de Cannes. Após duas horas de
cerimônia, veio esta obra dirigida por Leos Carax. Eu saí morrendo de vontade de
escrever, no calor da “emoção”. Mas achei que ele não merecia isso. É um cineasta
cujo objetivo é incomodar o público, ser duramente criticado e, claro, aclamado por
certos críticos que gostam de se mostrar mais inteligentes que a “ralé incapaz".
Não há, porém, nada por trás.
Vamos começar pelo começo: Leos Carax surgiu nos anos 1980 com dois filmes que
realmente eram inovadores e provocativos: “Boy meets girl” e “Sangue Ruim” (você
assiste aos dois filmes no À La Carte”. Os filmes fizeram muito sucesso nos festivais e
criaram uma incrível fama para ele. Tanta que, inclusive, um cineasta brasileiro copiou
exatamente igual três cenas de “Sangue Ruim” para fazer comerciais de uma
campanha famosa...voltando ao nosso genial “enfant terrible”.
Uma das principais produtoras da França decidiu oferecer um grande orçamento para
que ele fizesse seu terceiro filme, que tinha o nome de “Os Amantes da Ponte Neuf”.
Claro que sendo um iconoclasta, genial, excêntrico, não bastava ter um grande
orçamento. Ele decidiu, às vésperas das filmagens que a verdadeira Pont-Neuf de Paris
não retratava como ele queria a... Pont-Neuf. Quis que não somente a ponte, mas todo
seu entorno fosse construído como cenário. As filmagens se prolongaram. O produtor
que já havia investido uma fortuna, para não perder, levantou mais recursos. E o
senhor Carax sempre gastando. Resultado: um filme caríssimo, onde nem se vê o
dinheiro gasto, e que levou à falência uma das mais tradicionais empresas produtoras
francesas. Isso dificultou um pouco as coisas e ele ficou um tempo sem filmar. Fez mais
dois filmes nestes anos.
Agora nos brinda com esta obra magistral, que custou outra fortuna. Nos letreiros
perdi a conta de quantos co-produtores havia, além de fundos e instituições.
Destaque: o filme é financiado majoritariamente pela... Amazon! "Sou rebelde, critico
esta burguesia burra, mas aceito dinheiro de uma das empresas mais vorazes do
mundo”. Não vou dar o prazer de ficar aqui contando e criticando esta peça, ponto a
ponto. Gastaria umas vinte páginas. E, estaria fazendo o que Sua Genialidade mais
deseja: chamar a atenção. Só um resumo. Podemos dizer que é um musical que conta
a história de dois artistas famosos que se casam e a relação entra em crise, após o
nascimento da filha, de nome Annette. Nada mais, nada menos, que Adam Driver
(Henry) e Marion Cotillard (Anne) nos papéis principais. Eles são sempre um prazer de
ver na tela, mesmo se calados (o que não é o caso). Ele faz um “comediante” que vai
ao palco e ofende a plateia que adora. Uma cópia descarada do Andy Kaufman
(interpretado com maestria por Jim Carey em “Man On The Moon”). Marion interpreta
uma cantora de ópera. Simon Helberg (o genial Howard de “Big Bang Theory) faz um
maestro apaixonado pela personagem de Cotillard, personagem bem menor. Algumas
sequências são esticadas até a exaustão. Outras interrompidas. Há cenas com um tom
artificial. Outras mais realistas. Outras quase surrealistas. Claramente o que dava na
telha de Sua Genialidade. Ele chega ao absurdo de colocar o casal numa motocicleta,
em alta velocidade, sem capacete. Sendo que na cena anterior, Henry havia buscado
Anne na porta do teatro e os fotógrafos pediam que ele tirasse o capacete para as
fotos, e ele não o fazia. Inclusive colocava um em Anne. Você pode estar pensando que
Sua Genialidade não se prende a valores burgueses tais como “continuidade”. Ok. Mas
para que colocar duas pessoas, numa moto, em alta velocidade, sem capacete? Numa
cena que não tem função dramática qualquer? “Porque eu posso!”.
Confesso que até fico com coceira de seguir compartilhando com vocês mais e mais
detalhes desta obra “genial”. Contei que tinha duas horas e meia? Cantado? Só mais
uma. Quando nasce o bebê, a Annette do título, ela é interpretada por... uma
marionete! Não é brincadeira. Alias, é. O que me deixa espantado é a quantidade de
críticos que escreve longas teorias sobre Sua Genialidade e seu filme. Que vontade de
valorizar alguém que não merece. Que posa de rebelde (imagine o choque: ele não foi
de smoking! Não usou gravata! Um verdadeiro rebelde. Todos ficaram muito
impressionados com sua coragem de quebrar o protocolo...rsssss). uma pessoa infeliz,
que odeia as pessoas, que trata mal todos os seus personagens. E que pega dinheiro
da Amazon! Aliás, imagino o que será a reação do público do Prime quando for
brindado com este filme, em meio ao restante do oferecido. Não consigo imaginar
uma combinação mais heterodoxa. Para terminar, peço que todos agradeçam minha
gentileza em escrever este texto, pois salvei 2 horas e meia da vida de vocês.
Confesso que depois de uma hora e meia, achei que valia mais a pena assistir ao final
de Itália e Espanha pela EuroCopa e abandonei.
Comments