Há 10 anos estreava nos cinemas o belo e sensível "A Árvore" (França/Austrália/Alemanha/Itália/EUA, 2010), segundo longa-metragem da francesa Julie Bertuccelli. Em tom de realismo fantástico, o filme, adaptado de um romance de Judy Pascoe, mostra as estranhas manifestações que acontecem na vida de uma família numa pequena aldeia na Austrália, após a morte repentina do patriarca. A jovem viúva, interpretada por Charlotte Gainsbourg, além de lidar com sua própria dor, precisa cuidar sozinha das suas crianças, especialmente da pequena Simone, que acredita que o espírito do pai passou a habitar a copa de uma enorme figueira existente na frente da casa. Para o papel de Simone, cerca de duzentas meninas foram submetidas a teste, mas a escolhida acabou sendo a encantadora Morgan Davies, que depois atuou no suspense "O Caçador", estrelado por Willem Dafoe. Segundo Alysson Oliveira, em crítica publicada no site Cineweb e replicada no jornal O Globo, "'A Árvore' é um filme de emoções verdadeiras e que encontra força nas interpretações - especialmente de Charlotte e da pequena Morgan". Leia abaixo o texto completo.
Em 'Árvore', Charlotte Gainsbourg encara morte do marido
Para Charlotte Gainsbourg, ser mãe é padecer no paraíso. Ao menos no cinema. Depois da mãe sofredora, e bota sofrimento nisso, em "Anticristo", de Lars Von Trier - que lhe rendeu o prêmio de interpretação feminina em Cannes 2009 -, ela encarna outra vez a figura materna no limite em "A Árvore".
A direção é da francesa Julie Bertucelli, que tem em seu currículo o longa "Desde que Otar Partiu", premiado na Semana da Crítica em Cannes 2003. O roteiro é baseado num romance da australiana Judy Pascoe e a narrativa situa-se no interior da Austrália.
Julie, aliás, é uma cineasta que costuma filmar longe de casa. Seu filme de estreia passava-se na Geórgia. Assim, ao mesmo tempo em que localiza a narrativa, ela também é uma descobridora daquele lugar, pois lhe é estranho.
Esse sentido de estranhamento é fundamental para "A Árvore", que foi o filme de encerramento do Festival de Cannes de 2010. As primeiras cenas mostram a relação familiar da personagem de Charlotte, Dawn, e o marido, Peter (Aden Young), e os filhos Tim (Christian Bayers), Lou (Tom Russell), Simone (Morgana Davies) e Charlie (Gabriel Gotting). Essa espécie de prólogo dura o suficiente para registrar o clima harmonioso da família e a relação próxima entre Simone, a filha mais nova, e o pai, que morre de um ataque do coração.
Essa ruptura transforma a família, ao ponto de que a pequena Simone passa a acreditar que o pai está dentro de uma grande figueira que há na frente da casa familiar. A ausência destroi emocionalmente os personagens, que precisam se recompor. A princípio, Dawn não se importa com a relação próxima da filha com a árvore. Devastada, ela mesma busca refúgio na solidão junto à figueira em alguns momentos.
A obsessão da menina ganha contornos mais sérios à medida em que Simone se isola cada vez mais, apegando-se à arvore. Ganhando ares de um realismo fantástico, é como se a árvore passasse a ter um 'comportamento' estranho. É óbvio que a diretora está trabalhando com uma alegoria. A figueira no filme, que guardaria a alma de Peter, não representa apenas uma árvore, mas o sentimento da menina sobre a perda do pai.
Coincidentemente, a diretora passou por uma experiência parecida pouco antes das filmagens. Seu marido, o diretor de fotografia Christophe Pollock, morreu em 2006, deixando-a com dois filhos pequenos.
Independente dessa coincidência - ou se o longa trouxe algum tipo de expiação para Julie, "A Árvore" é um filme de emoções verdadeiras e que encontra força nas interpretações - especialmente de Charlotte e da pequena Morgana.
Por Alysson Oliveira, do Cineweb
Assista ao filme, no link: https://www.belasartesalacarte.com.br/a-arvore
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